Iconografia dos santos Jacinta e Francisco

Jacinta e Francisco Marto, irmãos, eram dois pequenos pastores na zona de Aljustrel, onde haviam nascido. Francisco, o mais velho, nasceu em 11 de junho de 1908 e Jacinta a 11 de março de 1910. Os dois e a prima Lúcia, mais velha, vivenciaram aparições ou visões místicas, precedidas e seguidas por outros fenómenos extraordinários: as visões preparatórias do anjo, entre 1915 e 1916; as aparições da Virgem, entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917. Os dois irmãos morreram vítimas da gripe pneumónica: Francisco, com 10 anos, a 4 de abril de 1919, em Ourém; Jacinta, com 9 anos, a 20 de fevereiro de 1920, no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Encontram-se sepultados na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Foram beatificados a 13 de maio de 2000 e santificados a 13 de maio de 2017, altura em que se comemora o centenário das aparições.

A iconografia dos novos santos não-mártires Jacinta e Francisca é definida a partir das imagens fixadas em fotografia por altura das aparições da Virgem.

Os pendões da canonização baseiam-se numa fotografia tirada aos dois meninos, em Aljustrel, dias antes da última aparição a 13 de outubro de 1917 e que já tinha sido utilizada na cerimónia da beatificação em 2000. A artista plástica Sílvia Patrício¹ trabalhou a imagem, acrescentando-lhe uma coloração de tons terrosos e o tratamento do rosto em manchas que acentuam a expressividade e que é uma das suas marcas e lhe define o estilo de cariz realista.

As figuras destacam-se, um tanto artificialmente, sobre um fundo também acastanhado. Apresentam-se com o traje de pastores. Francisco veste calças compridas a tapar os botins, camisa e casaquinho curto com gola de pele e tem a cabeça coberta por barrete, um carapuço comprido em forma de cone e remate de borla, pendido sobre o ombro esquerdo. Traz a tiracolo e preso por cordão ao pescoço, um talego de trapos para o farnel. Jacinta veste blusa branca, de decote redondo com remate de renda e mangas compridas de punho alto, um colete de estampado miúdo de flores e ampla saia, comprida e também com estampado miúdo, realçado por um galão fino acima do joelho. Calça sapatos abotinados, com cordão. A cabeça é coberta por um lenço posto em bico e caído sobre as costas.

A individualidade das figuras é fixada através do olhar: enquanto Jacinta olha de frente para o observador, numa atitude de interpelação em consonância com o caráter expansivo de uma menina de sete anos, Francisco eleva os olhar ao alto, numa expressão contemplativa que denota uma personalidade mais tímida e reservada. Ambos se apresentam sérios, a marcar a maturidade e a profundidade que os tornou aptos à participação num acontecimento extraordinário e transcendente.

Os atributos são o terço, que ambos seguram na mão esquerda, e a candeia, na direita. A candeia é desenhada a partir do original que pertencera à família Marto no tempo das aparições e que também serviu de modelo para os relicários dos novos santos, apresentados na cerimónia da canonização.

Ambos se apresentam aureolados, em conformidade com a condição de santidade. Sobre o fundo, em torno das cabeças, destaca-se o círculo dourado das auréolas, cujo aro, largo, com um trabalho de aspeto filigranado, remetendo para peças de adorno popular, onde se apresentam outros atributos específicos, de teor eucarístico, na de Francisco, e cultual, na de Jacinta. Na auréola de Francisco, inscreve-se a silhueta do Anjo de Fátima, que lhes levou a Eucaristia, a sarça ardente e as espécies eucarísticas. Na de Jacinta, as figuras do Papa e da Virgem com o Coração Imaculado.

1. Sílvia Patrício nasceu em Vincennes, França, em 1974. Licenciada pela escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, dos seus trabalhos e exposições destaca-se a série “Essa Paixão Proibida”, feita em 2009, com base no livro “O Crime do Padre Amaro”. [↩]

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